terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um cavaleiro de triste figura: as aventuras do deputado Jean Wyllys, fidalgo de Alagoinhas, em sua cruzada contra o Cristianismo (Parte II)

(Ler Parte I)


O deputado Jean Wyllys é daqueles políticos perigosos, que não assumem o poder que têm. Quanto mais apoio, dinheiro e poder possui, mais vítima ele se sente. Pode jurar, entre lágrimas, estar sendo alvo de injustiça, mas comete, ele próprio, as mais notáveis injustiças. Líderes políticos célebres do passado, como Alexandre Magno, Júlio César ou Napoleão Bonaparte, com toda sua violência e autoritarismo, jamais foram inconscientes em relação ao próprio poder e, portanto, demonstravam ao menos algum senso de honra e responsabilidade no seu exercício. Por sua vez, o Sr. Wyllys é irresponsável e inconsciente, capaz de fremir de autopiedade no momento em que agride, bradar contra a intolerância quando a pratica, sentir-se alvo de ódio injustificado no instante em que espuma de ódio contra os "homofóbicos" e "fanáticos religiosos". A virulência com que o Sr. Wyllys se refere aos cristãos - que não condiz com a imagem de humanista tolerante e amoroso que ele deseja transmitir - é que tem toda a pinta de uma fobia.

Mas quem, afinal, são os "fanáticos religiosos" do The Guardian, do deputado Jean Wyllys e da classe  falante brasileira? São, simplesmente, os cristãos enquanto tais (muitos homossexuais, inclusive), que acreditam na Bíblia e, portanto, acreditam que o homossexualismo é pecado. Mesmo que não passem disso, e que façam tal afirmação das maneiras as mais educadas, o Sr. Wyllys acusa-os de homofóbicos, termo técnico que significa "ódio doentio e potencialmente homicida a homossexuais" (escrevi mais sobre o conceito de homofobia neste post). O Sr. Wyllys e muitos de seus companheiros de classe cultural dizem que o Brasil, a Bíblia e a Igreja Católica são homofóbicos. O ex-BBB não parece ver contradição entre afirmar que o país é homofóbico e, ao mesmo tempo, reconhecer que este mesmo país foi capaz de lhe dar a vitória num reality show: "I said I was a homossexual and I still won the programme in a country that is homophobic". Como foi possível tamanha façanha? O deputado não explica. 

No twitter, o Sr. Wyllys chama o Papa de "genocida em potencial" (ver aqui). Na revista Carta Capital, acusa-o de nazista (ver aqui). Qual a prova que ele tem de que o Papa é nazista? Ora, Bento XVI foi "suspeito e acusado de ser simpático ao nazismo". Acusação, para o Sr. Wyllys, basta como comprovação. Portanto, reforçando a acusação contra o Papa,  ele acredita estar fornecendo um prova suplementar do crime. 

Se há características que o ex-BBB possui em comum com Dom Quixote, são elas o destempero e a mania de grandeza. Em sua destemperada egotrip - o que um BBB não causa na alma de uma pessoa? -, nosso Dom Quixote de Alagoinhas se arvora a dar lições de moral ao Papa e aos católicos. O Sumo Pontífice, escreve o Sr. Wyllys, não compreende o amor. E então, o deputado dá ao Papa e demais sacerdotes da Igreja uma aula sobre o amor, aula na qual os clichês mais surrados passam-se por insights filosóficos e poéticos:

"O amor, como a fé, é inexplicável:  sente-se ou não. Não há dicionário que possa defini-lo; só o poeta pode dizer alguma coisa a respeito — fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente — mas para entendê-lo é preciso sentir tudo aquilo que o papa, os cardeais, os bispos e os padres, pelas regras do trabalho que escolheram desde jovens, são proibidos de sentir – seja por outro homem, seja por uma mulher. Talvez por isso eles não entendem. Mas o amor nunca poderia ser uma ameaça para a humanidade; antes, sim, uma salvação para os seus piores males, um antídoto contra os venenos que a intoxicam, uma vacina contra as doenças que a afligem. O papa está errado de cabo a rabo. Ele não entendeu nada mesmo"

O Sr. Wyllys acredita sinceramente que, por ter experimentado o amor carnal, está habilitado a ensinar sobre amor aos sacerdotes católicos, que não teriam passado pela experiência. Para o deputado LGBT, seu tesão é como uma fonte de iluminação espiritual. Tão enclausurado está no próprio universo, que é incapaz daquele mínimo de empatia que faz-nos enxergar os outros como realmente são, e não como projetam nossas fantasias subjetivistas. Ora, os sacerdotes católicos são homens como outros quaisquer - muitos deles, aliás, tendo passado por relacionamentos sexuais antes de optar pelo sacerdócio. Não são "proibidos" de sentir "amor". Escolheram, por conta própria, abrir mão do amor carnal apenas (ou seja, da vida sexual) para se dedicar com maior força ao amor a Deus. Ademais, todo sacerdote católico que sinta sua vocação fraquejar pode desistir do sacerdócio a qualquer momento. A Igreja estimula nos pretendentes a padre uma auto-reflexão constante sobre sua vocação. Só permanecem mesmo aqueles que aguentam a barra. Mas, por julgar inconcebível que alguém abra mão do amor carnal por motivos elevados, quando o Sr. Wyllys fala em "amor" está pensando exclusivamente no seu próprio desejo sexual. 


Bento XVI e a Igreja Católica, diz o depuado no twitter com suscetibilidade quase infantil, "não têm moral para falar do nosso amor!". Segundo o bizarro raciocínio, as crianças, por exemplo, assim como os sacerdotes, não entenderiam nada de amor, pois para isso é preciso ter feito sexo (de preferência, homossexual). Amor aos pais, amor entre irmãos, amor a Deus etc... Tudo isso está muito além da compreensão do ex-BBB, cujo órgão de raciocínio parece, por vezes, ser qualquer um menos o cérebro.

Ora, se há uma coisa que até o mais empedernido ateu seria capaz de reconhecer é que a Igreja Católica é uma instituição que tem historicamente se dedicado à caridade, que nada mais é do que o famoso "amor ao próximo". Igrejas ao redor do mundo organizam-se em paróquias para a execução de obras de caridade. Nas maiores tragédias humanas, a Igreja Católica é sempre uma das primeiras entidades a encabeçar o esforço humanitário de auxílio e conforto às vítimas. Qualquer pessoa desprovida de preconceito anti-clerical seria capaz de enxergar nas biografias de santos católicos um manancial de lições de generosidade, desprendimento e auto-sacrifício em nome do próximo, sobretudo dos desfavorecidos. Os exemplos da caridade católica são tantos, que seria ocioso elencá-los aqui. Só mesmo uma mente obcecada com o próprio umbigo para ousar dizer, com tanta sem-cerimônia, que o Papa e os sacerdotes católicos "não entendem nada de amor". A não ser que, como parece sugerir o deputado LGBT, para entender de amor seja preciso ter feito sexo anal com outro homem. Nesse caso, o Papa não deve mesmo ter entendido nada.

Por falar em caridade, aliás, seria interessante perguntar onde está o movimento gay quando ocorrem grandes dramas e tragédias humanos. Alguém tem notícia de grupos LGBT se organizando para ajudar os desfavorecidos e carentes? Os militantes gayzistas estariam assim tão ocupados em defender seus interesses particulares e incrementar seu poder político que não podem ceder um pouco do seu tempo para praticar o amor ao próximo? E, por "amor ao próximo", não estou me referindo a traçar o próximo da fila. Não, Sr. Jean Wyllys, amor não é isso. Isso é sexo, coisa que até as formigas fazem.

A irritação do deputado com Bento XVI e com a Igreja Católica surgiu de um discurso de ano novo do Papa ao corpo diplomático da Santa Sé, proferido no dia 9 de janeiro de 2012 (ler o discurso na íntegra). O discurso tratava de temas amplos tais como a crise mundial, conflitos étnicos e educação dos jovens. O trecho que desagradou o Sr. Jean Wyllys, e que o fez trair um destempero quase histérico, foi o seguinte:

"A educação é um tema crucial para todas as gerações, pois depende dela tanto o desenvolvimento saudável de cada pessoa como o futuro da sociedade inteira. Por isso mesmo, aquela constitui uma tarefa de primária grandeza num tempo difícil e delicado. Para além de um objectivo claro, como é o de levar os jovens a um pleno conhecimento da realidade e, consequentemente, da verdade, a educação tem necessidade de lugares. Dentre estes, conta-se em primeiro lugar a família, fundada sobre o matrimónio entre um homem e uma mulher; não se trata duma simples convenção social, mas antes da célula fundamental de toda a sociedade. Por conseguinte, as políticas que atentam contra a família ameaçam a dignidade humana e o próprio futuro da humanidade" (grifos meus)

O Papa apenas cumpria o seu papel. Como representante máximo da Igreja Católica, falava em nome dos valores cristãos e, dentre eles, especialmente da família tal como concebida na Bíblia, isto é, fundada sobre o matrimônio de um homem e uma mulher com vistas à reprodução da espécie. Bento XVI menciona a importância de defender o modelo cristão de família em face de um "tempo difícil e delicado", no qual abundam "políticas que atentam contra a família". O Papa está coberto de razão. E, em seu discurso, ele nem se refere diretamente às uniões civis entre homossexuais, mas sim às pesquisas com células-tronco embrionárias humanas e à legalização do aborto em vários países. Há realmente, no mundo atual, uma série de políticas públicas voltadas para a dissolução do modelo judaico-cristão de família. Quem em sã consciência negaria uma coisa dessas? O próprio movimento gay vive batendo na tecla de que o modelo judaico-cristão não pode ser considerado o único que existe e que, portanto, trata-se de propor novos arranjos familiares. Estaria o Papa inventando coisas?

Em várias partes do mundo, políticas educacionais impostas desde fora sobre as nações concernentes (ler Maquiavel Pédagogue, de Pascal Bernardin) estão forçando instituições públicas de ensino a adotar, entre outras novidades, um modelo que favoreça a "diversidade sexual" e a aceitação, por parte de crianças e adolescentes, de famílias de composição variável (dois homens, duas mulheres, três homens, duas mulheres e um homem, cinco transsexuais e uma mulher, e assim por diante). Mais uma vez, o poder do movimento gay internacional se faz presente, porque os profissionais de educação e pedagogia que coordenam essas políticas educacionais são, todos, sem exceção, comprometidos com a causa gay e, sobretudo, com a dissolução dos valores judaico-cristãos tradicionais. E daí a preocupação do Papa porque, entre os "lugares de educação" aos quais ele se refere, as instituições de ensino estão, em sua imensa maioria, nas mãos de pessoas radicalmente contrárias à concepção cristã de família. 

No Brasil, a promoção da "diversidade sexual" nas escolas beira o proselitismo gay puro e simples. A SECADI (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão) - que antes chamava-se apenas SECAD, mas que ganhou uma nova letra ("I" de inclusão), pois o nosso governo confunde siglas extensas com eficiência -, ligada ao Ministério da Educação, e formada quase que exclusivamente por militantes de movimentos sociais (movimento gay, feminista, negro etc.), vem tentando reiteradamente emplacar o chamado "kit anti-homofobia" nas escolas de ensino fundamental. O kit é composto por apostilas, cartilhas e vídeos. Seu pretenso objetivo é eliminar a "homofobia internalizada" desde a origem. Mas, na prática, a coisa é bem diferente.


Um do vídeos, por exemplo, idealizado teoricamente para o estudo da matemática, ensina às crianças que, se elas forem bissexuais, terão maiores chances de ficar com alguém (ver aqui). Trata-se de pura doutrinação sexual porque, de fato, para o ensino de matemática, o vídeo de nada serve. Seus idealizadores, eles próprios, não sabem nada de matemática. Alertando as crianças para as maravilhosas vantagens do bissexualismo, o narrador do vídeo comenta que, gostando-se de ambos os sexos, a probabilidade de encontrar alguém para amar seria quase 50% maior. Mas não é preciso ser nenhum gênio para saber que se alguém que, por exemplo, só gostasse de mulheres, passasse também a gostar de homens, sua probabilidade de encontrar alguém passaria a ser, naturalmente, 100% maior, e não 50%. Em vez de buscar parceiros num único conjunto de pessoas (as mulheres), passaria a buscá-los em dois conjuntos (as mulheres e os homens). Logo, suas chances seriam duas vezes (ou seja, 100%) maiores. Os autores do vídeo podem ser excelentes professores de "homoafetividade", jamais de probabilidade.

O alerta do Papa voltava-se não contra o homossexual em si, e muito menos contra "o amor", mas contra aquele tipo de doutrinação sexual. Mas o Sr. Wyllys, absolutamente convicto de que a defesa de seu grupo de interesse é algo muito mais nobre e valoroso do que a defesa que o Papa faz de uma instituição com mais de dois mil anos de existência, enfureceu-se. Pretendendo retratar o Papa como um vilão de cinema - um misto de Darth Vader com Lex Luthor - o deputado sentenciou: "O amor e a felicidade como ameaças contra a humanidade: foi o que afirmou Bento XVI"

Deparando-me com as palavras do Sr. Jean Wyllys, senti-me por um instante como o Padre Donissan - personagem de George Bernanos em Sob o Sol de Satã -, depois de ter recebido sua perturbadora dádiva e, ao mesmo tempo, sina: a capacidade de vislumbrar a alma das pessoas em toda sua nudez. Ferido mortalmente em seu orgulho (e, como já dizia Shakespeare, o orgulho devora a si mesmo), nosso ex-BBB transbordou de mágoa e expôs aos olhos de todos os piores defeitos de sua pobre alma:

"Dentre todos os desatinos do papa, este foi o que mais me chocou. Talvez porque sua afirmação estapafúrdia e anacrônica tenha violado diretamente a minha dignidade humana de homossexual assumido e orgulhoso de minha orientação sexual e de minha formação científica (sim, porque a afirmação de Bento XVI parte da crença absurda de que o casamento civil igualitário vai transformar todos os homens e mulheres em homossexuais e vai impedir que todas as mulheres da Terra recorram às técnicas de reprodução artificial)"


Há aí uma mistura de tudo o que há de pior na alma humana: orgulho, vaidade, egoísmo (e é sintomático que o pronome "minha" tenha aparecido três vezes em seqüência). Todas as pessoas, é claro, trazem em si estes defeitos. Umas mais, outras menos. Mas, de todo modo, não é tão comum vê-los assim ostentados de maneira tão irrefletida, quase inocente, como se virtudes fossem. 


O Sr. Wyllys comporta-se como o señorito satisfecho de Ortega y Gasset. Fala em "técnicas de reprodução artificial" como se elas sempre houvessem existido. Não pára um segundo para realizar o procedimento moral número um de qualquer homem maduro, qual seja, o de perguntar-se sobre as eventuais conseqüências da universalização de seu comportamento individual. O que teria acontecido se todos os homens, ao longo da história, fossem homossexuais como ele? A espécie humana já teria sido extinta há tempos. E, sendo assim, as técnicas de reprodução artificial sequer teriam sido inventadas. Em seu pronunciamento, o Papa apenas insistia numa obviedade: que o heterossexualismo gera humanidade e que, portanto, ele transcende o simples desejo sexual. Já o homossexualismo não gera nada além de satisfação sexual para aqueles envolvidos no ato sexual. Por mais legítima que seja essa satisfação, ela é de interesse particular. É estranho ter que lembrar ao deputado que homossexuais nascem de pais heterossexuais. Se os pais do Sr. Wyllys tivessem sido gays como ele, simplesmente não haveria Jean Wyllys para contar história.

É esta característica do heterossexualismo - o fato de poder gerar uma nova vida - que está na base do conceito judaico-cristão de família. E a figura jurídica do "casamento civil" deriva historicamente daquele conceito. Portanto, a extensão do "casamento civil" a outras formas de família é uma inovação, um experimento social. Cabe logicamente aos seus propositores o ônus de demonstrar a sua necessidade e importância histórica. Mas a Igreja Católica não tem nenhum compromisso com tal inovação, e sim com a defesa da família tradicional - a "célula fundamental de toda a sociedade", nas palavras de Bento XVI -, que os cristãos acreditam ter sido criada por Deus para a geração e educação da prole. O Papa nem chega a mencionar o "casamento civil" entre homossexuais em seu discurso, mas teria todo o direito e a legitimidade de criticá-lo, assim como o Sr. Wyllys tem o direito de defendê-lo. Querer satanizar o Sumo Pontífice por sua defesa dos valores tradicionais da religião com maior número de fiéis em todo o planeta é de uma prepotência atroz, uma atitude típica de mentalidades totalitárias e ególatras.


O que o deputado parece não compreender é que o Papa representa uma instituição que não lida com as coisas do tempo histórico, mas com valores eternos. Quando o Sr. Wyllys diz que a afirmação do Papa é anacrônica, ele apenas revela não ter idéia do que está falando, uma vez que à Igreja pouco importa ser anacrônica ou contemporânea. Ela não responde pelo tempo (cronos), mas pela eternidade. Ela é, de fato, supra-crônica. A responsabilidade da Igreja é salvar almas e enviá-las à eternidade junto a Deus. A administração do tempo é reservada aos governos e aos poderes "deste mundo". A Igreja não é uma confecção de roupas; ela não tem que seguir as últimas tendências da moda. E, muito menos, endossar experimentos sociais inovadores. Se o Sr. Wyllys não fosse tão ignorante em relação ao Cristianismo, ele jamais teria optado pelo adjetivo "anacrônico" para ofender a Igreja Católica. A ofensa é estéril pois se baseia num category mistake, como diria o filósofo Gilbert Ryle, equivalente a reclamar do Teorema de Pitágoras por ser doce demais.

As palavras do Sr. Wyllys, como não podia deixar de ser, provocaram pronta reação de católicos e outros cristãos. Muita gente não viu com bons olhos o atrevimento do deputado, que parecia não aceitar que a Igreja Católica tivesse suas próprias razões de existência, e que não se curvasse aos imperativos e exigências do restrito universo do gayzismo militante. Até ordens ao Papa o rapaz se meteu a dar: "Bento XVI não pode continuar difundindo o ódio e o preconceito contra os gays". O orgulho ferido, de fato, não é bom conselheiro. Quando o orgulhoso põe as mãos no twitter, então, aí mesmo é que a coisa fica feia: "A lista de crimes praticados pela Igreja Católica é do conhecimento de todos: começa com o assassinato de mulheres e vai até o holocausto" (ver aqui). 

Não sei se o Sr. Wyllys tem conhecimento, mas a Igreja Católica, o corpo de Cristo, é formada por todos os seus membros. Logo, o que ele está afirmando é que os católicos são assassinos de mulheres e promotores do holocausto. Agora vamos ver se as coisas ficam claras: o deputado quer ter a liberdade para afirmar esse tipo de coisa, mas pretende criminalizar quem diga, por exemplo, que o homossexualismo é pecado. 


O Sr. Wyllys já declarou abertamente que o termo "homofóbico" não se refere apenas a quem comete violência contra homossexuais, mas a qualquer pessoa que, por qualquer motivo, não aprove o homossexualismo. "A homofobia pode ser social e cultural e, dessa forma, é praticada pela maioria das pessoas" (ver aqui). Sendo que o deputado é um dos principais defensores da PL-122/06, projeto que criminaliza a homofobia, como não concluir logicamente que ele quer criminalizar a maioria das pessoas?


Os cristãos, é claro, são seus alvos preferencias e, por isso, ele ficou tão irritado com o recuo estratégico da senadora gayzista Marta Suplicy, que alterou provisoriamente o texto da PL-122/06, determinando: "A lei não se aplica à manifestação pacífica de pensamento decorrente da fé e da moral fundada na liberdade de consciência, de crença e de religião". O deputado não aceitou o recuo. Ele quer criminalizar, inclusive, manifestações pacíficas: "É difícil para a senadora compreender que, se ela é uma aliada histórica, eu sou um homossexual que conhece no corpo o peso da homofobia. O que para ela pode ser negociável por orientação partidária não o é para mim, porque minha dignidade está acima de partido e de vaidade" (grifos meus)

"Eu", "mim", "minha"... Não tem jeito. O deputado é mesmo um sujeito auto-referenciado. Vê-se que, para ele, a sua hipersensível dignidade - melindrada por qualquer motivo - está acima de qualquer coisa, inclusive de garantias constitucionais como a liberdade de consciência, de crença e de religião. Seu conhecimento, por assim dizer, somático da realidade autorizaria-o a tudo, inclusive a chamar os católicos de "assassinos de mulheres" e "nazistas". Para o Sr. Wyllys, todo o saber parece emanar de seu corpo gay - desde a sua filosofia do amor até o seu conhecimento sobre homofobia. Sua homossexualidade eleva-o acima dos mortais. O sexo anal é a sua gnose.

Diante da vigorosa reação de cristãos aos desatinos do deputado LGBT - abaixo-assinados,  twittaços, páginas no Facebook, artigos e mais artigos contra o seu desarranjo verbal (ver, por exemplo, aquiaqui e aqui) -, ele resolveu se explicar, dizendo que nada tinha contra os cristãos, mas apenas contra uma "minoria homofóbica", um "pequeno grupo extremista e fundamentalista" (ver aqui e aqui). O Sr. Wyllys conta que foi, inclusive, educado no catecismo católico das comunidades eclesiais de base, e que admira e respeita sacerdotes católicos como Frei Betto e Leonardo Boff, membros da Teologia da Libertação e, portanto, contrários ao Papa.

Este é o Cristianismo que o deputado aprova e considera modelar, porque simpático à sua causa. Trata-se, para ele, do "verdadeiro" Cristianismo. O Cristianismo do Papa, ao contrário, representaria apenas um pequeno grupo de - olha os adjetivos novamente - "extremistas" e "fundamentalistas". Eis aí, em estado puro, o fenômeno ao qual eu me referi anteriormente: a inversão da realidade por meio da transmutação retórica miraculosa da maioria em minoria e da minoria em maioria; da regra em exceção e da exceção em regra. 


A Teologia da Libertação, como todo mundo sabe, é sumariamente condenada pela Igreja Católica. Trata-se de um milenarismo político, e o milenarismo - um conjunto de "fábulas ridículas", nas palavras de Santo Agostinho -  fora condenado como heresia  já no Concílio de Éfeso, no ano de 431 d.C. A Teologia da Libertação é que consiste, portanto, numa seita minoritária e excêntrica (extremista, poder-se-ia dizer). Sua igreja não é a de Jesus Cristo, mas a de Marx, Engels, Lênin e companhia, estes sim mentores de regimes verdadeiramente genocidas e homofóbicos. 


Mas me corrijo. Não é que Frei Betto, Leonardo Boff e outros padres revolucionários do tipo - que, para o Sr. Wyllys, são os "verdadeiros" cristãos - representem um grupo exótico e minoritário no interior da Igreja. A coisa é pior: eles nem mesmo fazem parte da Igreja. Como esclarece o Decretum contra Communismum - lançado pelo Papa Pio XII em 1949, e depois referendado pelo Código de Direito Canônico de 1983, publicado por João Paulo II -, todo católico que, em nome da Igreja e da religião cristã, obstine-se em defender o comunismo ou colabore com organizações comunistas, incorre em pecado gravíssimo, sujeito a excomunhão automática (latae sententiae). Ou seja, os "verdadeiros cristãos" do deputado, mesmo que não saibam, são apóstatas da fé católica e, portanto, quando pregam, o fazem em nome de outra igreja. Se, ao fazê-lo, alegam-se sacerdotes católicos, incorrem em crime de falsidade ideológica e estelionato. Enquanto isso, aqueles que o Sr. Wyllys rotula de "pequeno grupo de extremistas" reúnem-se aos milhões para assistir às missas do Papa, a quem vêem como  líder máximo e legítimo de sua igreja.

Mas o nosso Dom Quixote de Alagoinhas é mesmo um sujeito curioso. Já confessou ser admirador de Che Guvera (ver aqui), que, ao lado de Fidel Castro, deu início a um regime que levou centenas de homossexuais ao paredão. É membro do PSOL, um partido socialista, ideologia responsável pelo assassinato de milhares de homossexuais na Rússia, na China, na Alemanha, na África, na América Latina. E, no entanto, acusa logo a Igreja Católica de ser homofóbica. 

Ora, o homossexualismo é, de fato, descrito em certas passagens da Bíblia como pecado (Rm, 1: 24-27; I Cor, 6: 10; I Tm, 1: 10). Mas não há ali nenhuma incitação ao ódio contra gays. Muito pelo contrário, o parágrafo 2358 do Catecismo da Igreja Católica diz claramente que os homossexuais "devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza". Nenhum cristão é ensinado a odiar ou discriminar homossexuais, porque todo cristão sabe que Jesus Cristo amava os pecadores. E, para o Cristianismo, os pecadores são simplesmente todos os seres humanos. Alguns são homossexuais, outros são invejosos, outros mentem, outros matam, outros cobiçam os bens do próximo, outros traem, outros são gananciosos, outros orgulhosos e assim por diante. Do ponto de vista da doutrina católica, não faria sentido um cristão discriminar o homossexual, porque o homossexual é um pecador como outro qualquer. O homossexualismo, aliás, está longe de ser considerado um dos pecados mais graves. Para o Cristianismo, ele é apenas uma característica secundária da pessoa, que não esgota a riqueza de sua alma. Não cabe a um cristão ficar apontando o dedo para os pecados alheios, quando ele próprio é um pecador. De fato, o pecado da acusação é, nos Evangelhos, um dos mais graves, condenado por Jesus com palavras duras: "Por que você repara no cisco que está no olho do teu irmão e não se dá conta da trave em seu próprio olho? Como podes dizer ao teu irmão: 'Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho', tu que não vês a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro do teu olho a trave, e então começarás a enxergar bem, para tirares o cisco do olho do teu irmão" (Lucas, 6: 41-42).


Já para Jean Wyllys e para os militantes gayzistas, partidários do velho hedonismo materialista de Marquês de Sade, o homossexualismo define a pessoa por inteiro. Ele passa a ser uma identidade total, uma razão de viver, uma causa, um motivo de orgulho. Nessas condições, como não poderia deixar de ser, o espírito torna-se hipersensível, melindrado e ressentido e, na primeira oportunidade, ele buscará vingança contra um "bode expiatório" de ocasião.

Não há nenhum cristão no Brasil propondo algo como a criminalização do homossexualismo ou pregando o ódio aos gays. Isso simplesmente só existe na cabeça dos militantes gayzistas. Em compensação, Wyllys e sua turma querem criminalizar os cristãos por causa de sua fé. Se isto não é discurso de ódio, eu já não sei mais o que é. A Wyllys não basta prender autores de agressões contra gays. Segundo ele, é preciso criminalizar toda a pessoa que sofrer daquilo que os gayzistas chamam de homofobia "internalizada" ou "introjetada" (ver esta entrevista do deputado à Folha de São Paulo). E, claro, são os próprios gayzistas que fornecerão o diagnóstico. 

Na maioria das democracias ocidentais, especialmente na Europa, os cristãos estão completamente na defensiva. Já foram praticamente exterminados socialmente, banidos da opinião pública, mantidos acuados dentro de suas igrejas, de onde os formadores de opinião não admitem que saiam. São ridicularizados por intelectuais, chamados de extremistas e reacionários pela grande imprensa, praticamente proibidos de se manifestar no espaço público, radicalmente laicizado. No Brasil, diante da ameaça da PL-122/06, eles apenas protegem o seu direito a liberdade de consciência e de crença; o direito de não ser presos ou processados por defender abertamente os valores nos quais acreditam, sem precisar esconder-se pelos cantos como criminosos. Alvos contantes de deboches e provocações - como essa aqui, por exemplo - têm, no geral, reagido de maneira firme, mas racional, deixando claro que seus adversários não são os homossexuais, mas o movimento gay e sua intolerância religiosa. 


Nos países islâmicos e socialistas, por sua vez, os cristãos estão sendo exterminados não apenas social, mas fisicamente. A violência e a perseguição a cristãos aumenta a cada dia na Nigéria, na Índia, no Egito, na Costa do Marfim, na China, na Coréia do Norte, na Síria, no Irã, e em muitos outros países. Os cristãos são hoje, indubitavelmente, um dos grupos humanos mais ameaçados e perseguidos do mundo. E, no entanto, a imprensa brasileira sequer noticia...


No panfleto do The Guardian, o Sr. Wyllys acusa os pastores evangélicos de ter "as mãos sujas de sangue dos homossexuais que morrem no Brasil vítimas de homofobia". Como já mostrei em outro post, baseando-me em dados fornecidos pelo próprio movimento gay, o número de crimes comprovadamente motivados por homofobia é quase insignificante no Brasil. Dentre esses crimes, não há nenhum que tenha sido cometido em nome da fé cristã ou da Bíblia. Os cristãos brasileiros - católicos, evangélicos ou ortodoxos - são unânimes em condená-los. Na realidade, portanto, seria muito mais fácil provar que, nas atuais circunstâncias, são as mãos do Sr. Wyllys - e de boa parte da classe falante brasileira, sobretudo da imprensa - que se tingem de sangue cristão. Mas há um nome técnico para a desproporção entre a hipersensibilidade da elite cultural brasileira diante da homofobia e a sua total ausência de sensibilidade em relação ao sofrimento de cristãos pelo mundo. Chama-se histeria.


E assim segue nosso cavaleiro de triste figura, imerso em sua jornada pessoal contra si mesmo, debatendo-se contra os próprios sentimentos de inadequação e buscando um alvo para descarregar as frustrações geradas por uma vida auto-esvaziada, reduzida às condições materiais de um corpo gay que se faz passar por altar. Nas mãos de pessoas assim tão auto-centradas, o poder é sempre uma arma de alta periculosidade. Quem gostaria de viver num mundo em que Dom Quixote, com sua total ausência de senso de realidade e empatia, adquirisse poder sobre a vida dos outros?

Um cavaleiro de triste figura: as aventuras do deputado Jean Wyllys, fidalgo de Alagoinhas, em sua cruzada contra o Cristianismo (Parte I)

No dia 27/01/2012, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) foi objeto de uma reportagem no jornal britânico The Guardian (ler aqui). O texto exalta o esforço de Wyllys - "primeiro deputado assumidamente gay" - em sua luta contra a "direita religiosa" e a "homofobia". Segundo o subtítulo da matéria, a atuação do deputado estaria provocando o "ódio" de "fanáticos religiosos", não impedindo contudo que, corajosamente, ele desse prosseguimento à sua luta.

Noto que a expressão "fanáticos religiosos" - um evidente juízo de valor - não foi utilizada entre aspas pelo autor da reportagem. Mesmo que, por coincidência, a expressão seja a mesma reiteradamente utilizada pelo deputado para caracterizar seus oponentes, o The Guardian não viu qualquer problema em utilizar a categoria de acusação, evidentemente parcial, de maneira descritiva, como se não passasse de um termo técnico e neutro. Mais ainda: desprezando o código de ética jornalística e, sobretudo, o senso de justiça e o direito elementar ao contraditório, o jornal britânico não se preocupou em dar voz a nenhum dos "fanáticos religiosos" mencionados. Quando cita o nome de um pastor contrário a Wyllys, o faz apenas para reforçar a imagem do deputado como alvo de ódio e intolerância. Tudo isso permite aos leitores da matéria notar que seu formato é menos o de uma reportagem jornalística do que o de um panfleto de propaganda ideológica.

O objetivo do panfleto é um só: gravar nos leitores a impressão de Jean Wyllys como uma espécie de Dom Quixote dos direitos civis, enfrentando sozinho poderosas forças obscurantistas, hidrófobas e fanáticas. E é o próprio Sr. Wyllys quem, finalmente, dá nome aos bois, assumindo com gosto a persona que o jornal lhe atribuía de antemão: "It's a difficult battle to fight. Sometimes I feel like Dom Quixote, you know?".

Não é preciso tratar aqui do equívoco tão comum, reproduzido pelo Sr. Wyllys, de interpretar Dom Quixote numa chave romântica, como se Cervantes tivesse pretendido exaltar os belos sonhos de um idealista e não, ao contrário, apontar a patética insanidade do "cavaleiro de triste figura", vítima exemplar daquilo que René Girard, inicialmente a respeito do próprio Dom Quixote, chamou de "desejo mimético"¹. Quero apenas examinar melhor o estatuto deste auto-intitulado Dom Quixote, de imediato tão sui generis, por poder dispor de um importante jornal estrangeiro para expressar suas idéias, privilégio negado, por exemplo, aos "fanáticos religiosos" seus opositores. Ou seja, a mera existência e a própria estrutura da reportagem/panfleto já começam a borrar um pouco a imagem que pretendia veicular, qual seja a de um cavaleiro solitário em luta contra um exército de gigantes. Na obra-prima de Cervantes, Dom Quixote de La Macha contava apenas com a companhia de seu fiel escudeiro Sancho Pança e, no embate com os seus "gigantes", nem mesmo isso. Já o nosso nobre fidalgo, Dom Wyllys de Alagoinhas, conta, pelo menos, com o auxílio de um grande jornal como o The Guardian. Os "gigantes", por sua vez, coitados, a depender do jornal britânico, assumirão sua condição inicial e permanecerão mudos como moinhos-de-vento.

Mas o The Guardian não é o único aliado do Sr. Jean Wyllys em sua luta heróica contra os "fanáticos religiosos". Ele tem também o apoio da maior emissora de televisão do Brasil, e uma das maiores do mundo, a TV Globo, por meio da qual, aliás, ele começou a se tornar uma figura pública, e sem a qual jamais teria conseguido os magros 13 mil votos que, graças ao sistema de proporcionalidade, acabaram elegendo-o, na esteira do deputado Chico Alencar. A TV Globo vem, há anos, militando em favor da agenda "anti-homofóbica", que é a mesma do ex-BBB. Dentre os autores e diretores de novelas - o principal produto da emissora -, vários são militantes históricos do movimento gay, como Agnaldo Silva e Gilberto Braga, que têm colocado personagens gays e tratado de temas gays em suas novelas com uma constância quase obsessiva. Por outro lado, você não verá, nas novelas da Globo, personagens cristãos e temas religiosos. Quando aparecem, são usualmente tratados de maneira negativa, ora como moralistas hipócritas, ora como defensores de poderosos e exploradores (pense-se, por exemplo, na novela Roque Santeiro). Em suma, além do The Guardian, o nosso curioso Dom Quixote, cada vez menos solitário, conta também com o suporte da maior emissora do país para divulgar sua agenda. E os "gigantes", os "fanáticos religiosos"? Esses, cada vez mais moinhos, cada vez mais mudos e cada vez mais imóveis.

Mas, além da Globo, toda a classe falante brasileira apóia a agenda do Sr. Wyllys e igualmente ataca aqueles que chama de "fanáticos religiosos". Com raríssimas exceções, o leitor não verá intelectuais, jornalistas, juízes, artistas, cineastas etc. defendendo os valores cristãos da família e do casamento heterossexual e monogâmico. Ao contrário, a classe falante, os formadores de opinião, estarão todos sustentando mais ou menos os mesmos argumentos e bandeiras do deputado LGBT. Eles próprios militam contra a "homofobia" - categoria utilizada de maneira espantosamente elástica - e a "direita religiosa". Esta entrevista de Wyllys à jornalista Marília Gabriela, por exemplo, ilustra bem o tom geral de apoio que a classe falante reserva ao deputado. Temos, então, ao lado do The Guardian e da TV Globo, a totalidade da classe falante nacional no apoio à agenda do ex-BBB. É o milagre da multiplicação dos Sanchos Pança.

O governo brasileiro, como se sabe, é outro que encampa a bandeira do Sr. Wyllys. O combate à "homofobia" e os "direitos" dos homossexuais estão na lista de prioridades do governo, que financia o movimento gay nacional com dinheiro público de estatais, como a Petrobrás e a Caixa Econômica Federal, e de convênios com organismos internacionais. A ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros), por exemplo, recebe um montante anual que varia de R$ 30.000,00 a R$ 100.000,00, por meio de um convênio entre o Ministério da Saúde, a UNESCO e o grupo gayzista militante Somos (ver aqui). 


O Supremo Tribunal Federal, como sabemos, e o próprio deputado reconhece na entrevista à Marília Gabriela acima mencionada, é outro que apóia a causa gayzista. Assim como o Sr. Wyllys, os ministros do Supremo - que não são eleitos pela população - consideraram que o Poder Legislativo estava "atrasado" na questão dos direitos dos gays e, interpretando o texto constitucional da mesma maneira que o Sr. Wyllys e os militantes do movimento gay interpretariam, aprovaram a união civil entre homossexuais, passando por cima da letra da lei e desprezando a representatividade do Congresso. Os argumentos utilizados pelos ministros do STF, como mostrei em outro post, foram idênticos aos utilizados pela militância gayzista. O Ministro Ayres Britto, relator do caso, chegou a dizer que a sexualidade "é um ganho, um bônus, um regalo da natureza" (ver aqui), ignorando assim, num surto de abstracionismo lírico, a necessidade da sexualidade (hétero) para a reprodução da espécie. Tratou-se, portanto, de uma importante vitória ideológica para o Sr. Wyllys e seus camaradas.

Mas, além do apoio oficial do Estado brasileiro, o deputado LGBT conta também com o suporte do governo da nação mais poderosa do mundo. O governo dos EUA, por meio do presidente Barack Obama e da Secretária de Estado Hillary Clinton, criou recentemente um "Fundo para os direitos LGBT", com valor inicial de US$ 3.000.000,00. Obama afirmou que a promoção dos direitos dos gays e o combate à "homofobia" são uma prioridade do seu governo. Hillary Clinton justificou a iniciativa nos seguintes termos: "Gay rights are human rights, and human rights are gay rights, once and for all" (ver aqui).

The Guardian, TV Globo, toda a classe falante nacional, governo brasileiro e governo norte-americano... Eis que surge um exército inteiro de Dons Quixotes em luta contra um moinho velho, menosprezado e solitário.

É claro que estou brincando um pouco. Mas só em relação aos opositores religiosos do movimento gay. Porque, em relação à rede de apoio à agenda do Sr. Wyllys, ela é, de fato, muito mais vasta e poderosa do que foi acima sugerido. É verdade que os adversários políticos do deputado - aqueles que o The Guardian, para fins depreciativos, chama de "a direita religiosa" - contam com um certo poder político e financeiro. Eles não são exatamente um moinho velho, menosprezado e solitário. Há programas evangélicos na televisão, onde pastores pregam a Bíblia abertamente. Há pastores eleitos como deputados, formando a chamada "bancada evangélica", principal força de oposição ao movimento LGBT. Há grandes igrejas evangélicas, cujos líderes dispõem de um poder econômico considerável. Tudo isso é verdade. E, no entanto, comparada ao poderio midiático e financeiro do lobby gayzista, a força político-cultural dos evangélicos brasileiros chega a dar pena.

No aspecto financeiro, além de receber grandes quantias de verba pública, o movimento gay brasileiro é subsidiado pelo movimento gay internacional, cujo dinheiro provém de grandes fundações bilionárias do capitalismo global (Ford, Rockefeller, George Soros etc.). A Human Rights Campaign (HRC), por exemplo, um dos principais grupos de pressão a favor do lobby gayzista, dispõe de um orçamento anual de mais de US$ 50.000.000,00, que repassa para movimentos LGBT ao redor do planeta (ver aqui). A Fundação Ford sozinha vem concedendo, ano após ano, grants que variam de US$ 100.000,00 a US$ 300.000,00 à International Gay and Lesbian Human Rights Comission (ver aqui). Mega-empresas como a Microsoft e a Nike fazem campanha aberta a favor do casamento gay (ver aqui). E os exemplos poderiam ser multiplicados indefinidamente...

Mas a discrepância de poder entre o movimento gay brasileiro e os seus opositores cristãos revela-se ainda mais notável no que se refere ao controle da opinião pública. Os programas de televisão evangélicos só são assistidos por evangélicos. As informações que ali circulam não são acessíveis a quem não pertença àquele grupo social. Os meios de expressão dos religiosos são facilmente identificados como parciais e prosélitos. Tudo o que vem dali é, a priori, tido como de interesse restrito, sem validade genérica. Lemos freqüentemente na imprensa a opinião de que os religiosos podem expressar sua crença e suas opiniões, mas que, como o Estado é laico, elas devem restringir-se ao âmbito da igreja. O religioso, mesmo quando dispõe de meios de expressão, fala sempre com a voz do particular. Sua visão de mundo não tem legitimidade para além dos seus.

O mesmo não acontece com os gayzistas e simpatizantes. O The Guardian, por exemplo, mesmo quando faz um nítido proselitismo em favor do movimento gay, mostrando-se francamente depreciativo em relação aos seus opositores, não é considerado um veículo parcial. Ele é lido por todos, não apenas por militantes gayzistas. Assim também a TV Globo. Embora venha, há anos, praticando uma militância anti-conservadora e pró-LGBT, ninguém vê a emissora como parcial neste sentido. Ela é assistida por todos, não apenas por militantes gayzistas. Ou seja, enquanto o cristão tradicionalista fala com a voz do particular, os gayzistas falam com a voz do universal. Os meios de expressão utilizados por eles são aqueles considerados standards, neutros e genéricos. Mesmo quando atuam nitidamente em nome de causas particulares, eles são reconhecidos como representantes legítimos de uma universalidade trans-grupal, compondo assim uma média da opinião pública. Quem tem o poder de determinar essa média (donde as palavras "media", em inglês, "mídia", em português etc.) vence a guerra cultural desde o início, pois consegue impor aos adversários aquilo que a cientista política Elisabeth Noelle-Neumann chamou de "espiral do silêncio".

É importante notar que a opinião pública média não corresponde necessariamente às idéias e valores da maioria da população de um país. No Brasil, por exemplo, aquela média está totalmente descolada do grosso da população, cujos valores são conservadores, religiosos e tradicionalmente moralistas. A média da opinião pública brasileira é formada, ao contrário, por uma elite cultural anti-religiosa, de esquerda e anti-tradicionalista. Tal elite cultural tem o seu próprio moralismo, que é o politicamente correto. Por isso, mesmo gostando de posar de amiga dos "excluídos", ela sente verdadeiro desprezo pelos valores da maior parte da população, a quem considera "ignorante", "despreparada", "reacionária" etc. O deputado Jean Wyllys, por exemplo, perguntado certa vez sobre um eventual plebiscito para decidir a aprovação do casamento gay, afirmou que aquilo seria uma "tragédia" (sic). Em suas palavras: "a população brasileira, que não é devidamente informada vai, por exemplo, aprovar a pena de morte, vai aprovar a redução da maioridade penal, ou seja, a gente não pode deixar na mão de uma sociedade que não é devidamente informada determinados temas" (ver aqui). Fica claro que, para o Sr. Wyllys, como para grande parte da classe à qual ele pertence (classe não no sentido econômico, mas no sentido cultural), a opção por certos valores dos quais ele discorda só pode ser fruto de má informação. O raciocínio é que, se as pessoas fossem ensinadas, educadas e informadas, todas pensariam naturalmente como o Sr. Jean Wyllys. Até que isso ocorra, elas não devem ter o direito de se manifestar e, muito menos, de decidir sobre questões públicas. O deputado LGBT parece sentir pela população que lhe deu a vitória no Big Brother o mesmo desprezo que Voltaire e outros iluministas sentiam pelos pobres franceses, a quem chamavam "la canaille" ("a gentalha", "o populacho").

Como se obtém o poder de determinar a média da opinião pública? É simples. Basta fazer como o The Guardian, associando repetida e insistentemente aos adversários ideológicos - que, no caso da classe falante brasileira, são os cristãos conservadores e moralistas, ou seja, a maior parte da sociedade - adjetivos tais como "fanáticos", "extremistas", "ultra-religiosos", "reacionários" etc., dando com isso a impressão de que possuem uma visão parcial e radical do mundo, que escaparia à racionalidade normal da opinião pública. Deste modo, a exótica visão de mundo de uma minoria acaba fazendo as vezes da normalidade sadia, enquanto que os valores da maioria são ridicularizados e desprezados como aberrações patológicas, fruto de mentalidades atrasadas e pouco esclarecidas.


Comecei a notar aquele procedimento de nossos formadores de opinião por ocasião do debate sobre a aprovação do uso terapêutico de células-tronco embrionárias humanas (CTeh). Escrevi a respeito em um paper apresentado num congresso de antropologia (ver aqui). Era impressionante. Nos meios de comunicação, sempre que se fazia referência aos defensores da aprovação das pesquisas com as CTeh, evitava-se o uso de adjetivos ou, quando utilizados, eles eram positivos. Já para os opositores do projeto eram empregados, com espantosa freqüência, os adjetivos "fervorosos", "fundamentalistas", "militantes", "ultra-conservadores", entre outros de mesmo teor. Ou seja, independente do mérito da questão, um observador de fora que lesse a cobertura jornalística seria levado naturalmente a concluir: "esses caras que se opõem à pesquisa com as CTeh são uns religiosos fanáticos, que só falam em causa própria. Devem estar errados e, portanto, eu fico com o outro lado, com a média".


O natural temor humano de isolamento em relação à opinião média é um componente essencial para o sucesso da "espiral do silêncio". Apresentar uma opinião, ou mesmo informação, que escape ao nível médio de conhecimento produz em quem o faz a curiosa sensação de ser um alienígena. Em festas, bares, casa de amigos, o sujeito que não opina conforme a média arrisca gerar um clima ruim e ser tratado com desconfiança. Com o tempo, este sujeito acaba silenciando ou, então, acomodando suas visões à visão de todos no entorno. Eu mesmo já experimentei algumas vezes essa curiosa sensação. Nas vezes, por exemplo, em que critiquei o presidente norte-americano Barack Obama num evento qualquer, as pessoas olhavam-me como se eu estivesse negando a lei da gravidade ou afirmando a existência de um quadrado redondo. Como a imprensa brasileira é unanimemente pró-Obama, reservando aos seus adversários aqueles rótulos de sempre - "extremistas", "fundamentalistas", "ultra-religiosos" etc. -, as pessoas, reféns do simbolismo sentimentalista do "primeiro presidente negro", sequer concebiam que alguém pudesse criticar Obama por boas razões. Assim, eu, que havia lido cinco livros sobre a biografia e trajetória política do presidente norte-americano (incluindo sua autobiografia), além de dezenas de artigos e registros de fontes primárias, encontrava-me, por vezes, na estranha situação de ser "corrigido" por pessoas que só sabiam de Obama aquilo que assistiam em rápidas matérias de 30 segundos no Jornal Nacional. Naquele contexto, a minha posição, por mais fundamentada que fosse, é que aparecia como excêntrica e exagerada, indigna sequer de ser ouvida com atenção. Assim funciona o mecanismo da "espiral do silêncio".


No Brasil, há ainda um agravante. Se você fornece uma nova informação para uma pessoa, ou se recomenda alguma leitura que considere essencial para a compreensão de um dado assunto, aquela pessoa se sentirá profundamente ofendida. Logo, além de ser considerado um alienígena, você será considerado também um arrogante, tentando ganhar a discussão por meio de um "argumento de autoridade". Nesse ambiente, as pessoas que têm conhecimento real de determinado assunto, e que poderiam contribuir com informações pertinentes que escapem à opinião média, tendem a reprimir sua posição, com medo de, primeiro, passar-se por excêntrico e, segundo, por arrogante e autoritário. E, assim, a "espiral do silêncio" avança sem resistências. Opiniões mal fundamentadas e arbitrárias propagam-se, enquanto informações corretas acabam soterradas sob uma avalanche de ressentimento e ignorância orgulhosa. Nas palavras da autora do conceito:


"Hoje já é possível provar que, mesmo quando sabem claramente que algo está errado, as pessoas se manterão em silêncio se a opinião pública (opiniões e comportamentos que podem ser exibidos em público sem o medo do isolamento) e, portanto, o consenso sobre o que constitui o bom gosto e a opinião moralmente adequada, estiver contra elas" (p. x).


O movimento gay tem se beneficiado largamente da "espiral do silêncio", que o protege de críticas e da necessidade de um exame mais cuidadoso de seus pressupostos e objetivos. Trata-se de um poder considerável. Pela recorrência com que a palavra "homofobia" aparece nos meios de comunicação, as pessoas passam a ficar intimidadas, com receio de que qualquer crítica ao movimento possa ser interpretada como intolerância e preconceito "de gênero". Ferir o politicamente correto é como cometer uma imoralidade ou um crime, e ninguém gosta de se sentir um criminoso em potencial. O poder do movimento gay consiste, precisamente, em espalhar indiscriminadamente tal sentimento, atingindo mesmo aquelas pessoas que jamais cometeriam ou tolerariam algum tipo de violência contra homossexuais, mas que têm, eventualmente, ressalvas ao movimento gay ou que, por razões de ordem particular (religiosas, filosóficas, psicológicas, morais etc.), demonstram algum desconforto com o comportamento de alguns homossexuais.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Haverá algo de podre no reino de Obamalândia?

Estou longe de ser um expert em programas de edição de imagens (Photoshop, Adobe Illustrator etc.), mas tem certas coisas que até um leigo pode perceber.
Posso estar muito enganado (e, se estiver, adoraria ser corrigido), mas parece-me haver algo estranho na Certidão de Nascimento de Barack Obama, disponibilizada no dia 27/04/2011 no site oficial da Casa Branca. O presidente americano, afetando o ar blasé de quem tem coisas mais importantes com que se preocupar, pretendia dar um cala boca nos chamados “birthers”, termo que designa aquelas pessoas que exigiam de Obama que apresentasse o documento.
Na imprensa brasileira, que, em lugar de exercer o jornalismo, comporta-se inexplicavelmente como torcida organizada de Barack Obama, o termo “birther” virou um rótulo difamador – quase como nazista, racista ou comedor de criancinhas. Para quem só acompanha os eventos políticos através da cobertura jornalística nacional – e que ignora, portanto, que exigir do candidato à presidência os documentos comprobatórios de sua elegibilidade é uma tradição norte-americana (fizeram o mesmo com John McCain, adversário de Obama na disputa eleitoral de 2008) –, os “birthers” figuram como um punhado de gente exótica, fundamentalistas de extrema-direita, vivendo quase na idade da pedra... Pessoas que acreditam que o mundo foi criado em sete dias, que o homem não foi à Lua e que – blasfemos! – Obama não é cidadão americano (o que é uma grosseira distorção, porque uma grande parte dos assim chamados “birthers” nunca questionou o local de nascimento de Obama, exigindo apenas que o candidato apresentasse os documentos). Enfim, o tipo de gente que arrancaria de Arnaldo Jabor um esgar de desprezo, acompanhado do seguinte comentário, dito com voz pastosa e boca retorcida: “caretas!”. 
Mas o papel da imprensa na cobertura da política norte-americana é assunto para um próximo post (que sairá em breve). Quero voltar à certidão propriamente dita.
Entrei no site oficial da Casa Branca, baixei a certidão (que o site disponibiliza para download) e salvei-a em meu computador. Como não tinha Photoshop, inicialmente abri o arquivo de dentro do Br Office. Depois, adquiri o Photoshop e o Adobe Illustrator, onde voltei a abrir o documento. Fiquei surpreso com o resultado. Em todos aqueles programas, a certidão pôde ser fragmentado em, pelo menos, duas camadas superpostas (layers), o que não ocorreria com um documento que tivesse sido escaneado. Portanto, digo com quase 100% de certeza que a versão disponibilizada pela Casa Branca não é uma fotocópia da certidão original, mas uma versão manipulada digitalmente. Não posso afirmar, é claro, que o conteúdo do documento também tenha sido manipulado ou falsificado. Mas que o documento foi mexido, isso foi.
Mas o leitor não precisa acreditar em mim. A seguir, forneço o passo-a-passo para que ele possa checar por sua própria conta (e risco! Pois questionar o Obama no Brasil é mais arriscado do que comemorar um gol do Flamengo na torcida do Vasco) se minha impressão é correta ou se, ao contrário, estou simplesmente delirando (e, em se tratando da segunda opção, peço que o leitor informado comunique-me: “você está maluco, Flávio! Vai trabalhar, vagabundo!”).
Para o Br Office (v. 3.3), o procedimento é o seguinte:
Entre no site da Casa Branca e faça o download da certidão de Obama (Long Form Birth Certificate) para seu computador (eis o link). Ver figs. 1 e 2 abaixo:

  Fig. 1. A certidão publicada no site da Casa Branca
  Fig. 2. No detalhe

Entre no Br Office e escolha a opção “Desenho” (ou Draw) no menu inicial. Ver figs. 3 e 4 abaixo:

  Fig. 3. Menu inicial do Br Office
  Fig. 4. Documento em branco no modo "Desenho"

Abra a certidão de nascimento salva em seu computador. Ver fig. 5 abaixo:

  Fig. 5. Certidão aberta no Br Office

Selecione o documento (clicando uma vez sobre ele) e depois mova a parte selecionada para a direita. Ver figs. 6, 7 e 8 abaixo:

  Fig. 6. Selecionando
  Fig. 7. Separando as camadas
  Fig. 8. Camadas separadas

Note que a camada da direita parece ter sido superposta à outra. Na camada da esquerda, no canto superior direito, há uma seqüência de números de registro (“Department of Health”): 61 1064 (ver fig. 9). Na camada da direita, no local equivalente ao número de registro (canto superior direito), há um número 1 isolado, que parece ter sido superposto à seqüência numérica da camada da esquerda, formando, quando abrimos o documento mesclado (i.e, sem a laminação em camadas), o número: 61 10641 (ver figs. 10 e 11).

  Fig. 9. Seqüência numérica original ("61 1064")
  Fig. 10. Algarismo "1" na camada posterior
  Fig. 11. Camadas superpostas ("61 10641")

Ainda sobre a seqüência numérica acima, há um detalhe que deixa mais provavél a hipótese de que aquele algarismo 1 da segunda camada foi acrescido posteriormente. Ora, dando um zoom na seqüência, percebe-se nitidamente que ele não corresponde ao padrão dos demais números. Estes são opacos, bem pretos, numa coloração contínua, ou seja, sem gradientes. Já o número 1 da camada superposta possui coloração mais esmaecida e descontínua (pode-se ver os pixels de tonalidades diferentes). Ver figs. 12 e 13:

  Fig. 12. O "1" provavelmente acrescido à seqüência
  Fig. 13. No detalhe é mais fácil notar a diferença

Não tenho a menor idéia se Barack Obama é ou não cidadão norte-americano, mas que essa certidão emitida pela Casa Branca é falsa, ah, isso é!

Das Virtudes e Vícios do Ceticismo

Em maio de 2012, o autor destas linhas frequentava um curso preparatório para o difícil e concorrido concurso do Itamaraty. Faziam três...