Estou longe de ser um expert em programas de edição de imagens (Photoshop, Adobe Illustrator etc.), mas tem certas coisas que até um leigo pode perceber.
Posso estar muito enganado (e, se estiver, adoraria ser corrigido), mas parece-me haver algo estranho na Certidão de Nascimento de Barack Obama, disponibilizada no dia 27/04/2011 no site oficial da Casa Branca. O presidente americano, afetando o ar blasé de quem tem coisas mais importantes com que se preocupar, pretendia dar um cala boca nos chamados “birthers”, termo que designa aquelas pessoas que exigiam de Obama que apresentasse o documento.
Na imprensa brasileira, que, em lugar de exercer o jornalismo, comporta-se inexplicavelmente como torcida organizada de Barack Obama, o termo “birther” virou um rótulo difamador – quase como nazista, racista ou comedor de criancinhas. Para quem só acompanha os eventos políticos através da cobertura jornalística nacional – e que ignora, portanto, que exigir do candidato à presidência os documentos comprobatórios de sua elegibilidade é uma tradição norte-americana (fizeram o mesmo com John McCain, adversário de Obama na disputa eleitoral de 2008) –, os “birthers” figuram como um punhado de gente exótica, fundamentalistas de extrema-direita, vivendo quase na idade da pedra... Pessoas que acreditam que o mundo foi criado em sete dias, que o homem não foi à Lua e que – blasfemos! – Obama não é cidadão americano (o que é uma grosseira distorção, porque uma grande parte dos assim chamados “birthers” nunca questionou o local de nascimento de Obama, exigindo apenas que o candidato apresentasse os documentos). Enfim, o tipo de gente que arrancaria de Arnaldo Jabor um esgar de desprezo, acompanhado do seguinte comentário, dito com voz pastosa e boca retorcida: “caretas!”.
Mas o papel da imprensa na cobertura da política norte-americana é assunto para um próximo post (que sairá em breve). Quero voltar à certidão propriamente dita.
Mas o papel da imprensa na cobertura da política norte-americana é assunto para um próximo post (que sairá em breve). Quero voltar à certidão propriamente dita.
Entrei no site oficial da Casa Branca, baixei a certidão (que o site disponibiliza para download) e salvei-a em meu computador. Como não tinha Photoshop, inicialmente abri o arquivo de dentro do Br Office. Depois, adquiri o Photoshop e o Adobe Illustrator, onde voltei a abrir o documento. Fiquei surpreso com o resultado. Em todos aqueles programas, a certidão pôde ser fragmentado em, pelo menos, duas camadas superpostas (layers), o que não ocorreria com um documento que tivesse sido escaneado. Portanto, digo com quase 100% de certeza que a versão disponibilizada pela Casa Branca não é uma fotocópia da certidão original, mas uma versão manipulada digitalmente. Não posso afirmar, é claro, que o conteúdo do documento também tenha sido manipulado ou falsificado. Mas que o documento foi mexido, isso foi.
Mas o leitor não precisa acreditar em mim. A seguir, forneço o passo-a-passo para que ele possa checar por sua própria conta (e risco! Pois questionar o Obama no Brasil é mais arriscado do que comemorar um gol do Flamengo na torcida do Vasco) se minha impressão é correta ou se, ao contrário, estou simplesmente delirando (e, em se tratando da segunda opção, peço que o leitor informado comunique-me: “você está maluco, Flávio! Vai trabalhar, vagabundo!”).
Para o Br Office (v. 3.3), o procedimento é o seguinte:
Entre no site da Casa Branca e faça o download da certidão de Obama (Long Form Birth Certificate) para seu computador (eis o link). Ver figs. 1 e 2 abaixo:
Fig. 1. A certidão publicada no site da Casa Branca
Fig. 2. No detalhe
Entre no Br Office e escolha a opção “Desenho” (ou Draw) no menu inicial. Ver figs. 3 e 4 abaixo:
Fig. 3. Menu inicial do Br Office
Fig. 4. Documento em branco no modo "Desenho"
Abra a certidão de nascimento salva em seu computador. Ver fig. 5 abaixo:
Fig. 5. Certidão aberta no Br Office
Selecione o documento (clicando uma vez sobre ele) e depois mova a parte selecionada para a direita. Ver figs. 6, 7 e 8 abaixo:
Fig. 6. Selecionando
Fig. 7. Separando as camadas
Fig. 8. Camadas separadas
Note que a camada da direita parece ter sido superposta à outra. Na camada da esquerda, no canto superior direito, há uma seqüência de números de registro (“Department of Health”): 61 1064 (ver fig. 9). Na camada da direita, no local equivalente ao número de registro (canto superior direito), há um número 1 isolado, que parece ter sido superposto à seqüência numérica da camada da esquerda, formando, quando abrimos o documento mesclado (i.e, sem a laminação em camadas), o número: 61 10641 (ver figs. 10 e 11).
Fig. 9. Seqüência numérica original ("61 1064")
Fig. 10. Algarismo "1" na camada posterior
Fig. 11. Camadas superpostas ("61 10641")
Ainda sobre a seqüência numérica acima, há um detalhe que deixa mais provavél a hipótese de que aquele algarismo 1 da segunda camada foi acrescido posteriormente. Ora, dando um zoom na seqüência, percebe-se nitidamente que ele não corresponde ao padrão dos demais números. Estes são opacos, bem pretos, numa coloração contínua, ou seja, sem gradientes. Já o número 1 da camada superposta possui coloração mais esmaecida e descontínua (pode-se ver os pixels de tonalidades diferentes). Ver figs. 12 e 13:
Fig. 12. O "1" provavelmente acrescido à seqüência
Fig. 13. No detalhe é mais fácil notar a diferença
Não tenho a menor idéia se Barack Obama é ou não cidadão norte-americano, mas que essa certidão emitida pela Casa Branca é falsa, ah, isso é!
Achei que o talento para o auto-engano coletivo fosse um talento exclusivamente brasileiro. Infelizmente, vejo que não.
ResponderExcluirAbraços,
Thiago - RJ