terça-feira, 8 de abril de 2014

Parla!


Em Brasília, defronte ao palácio do Planalto, eis que um objeto imenso, de cor escura, com não menos que 5 metros de altura por 5 de largura, repousa sobre uma vasta base de mármore de carrara. Vê-se de longe aquela grande e imponente massa negra, que desponta no horizonte qual um escotoma no campo visual de quem olha para a vastidão do planalto central. 


Os que do vulto se aproximam notam de imediato a consistência plasmática, apenas para, ato contínuo, discernir a variedade de tons, do amarronzado ao negro, passando pelo cobre. Tais propriedades que à visão se apresentam, não obstante, chegam atrasadas em relação ao que permite averiguar o olfato - o cheiro forte, nauseabundo, acre, já não deixa margens para dúvidas: trata-se de um pitolô de cocô, um genuíno e colossal cagalhão.


Na placa de mármore sobre a qual descansa a greda, dizeres informam tratar-se de uma obra de arte, de autoria do presidente honorário Luís Inácio Lula da Silva. E ali, em letras garrafais, lê-se o seguinte: O MINISTÉRIO DA VERDADE INFORMA QUE A PRESENTE ESCULTURA SUPERA, EM TERMOS DE BELEZA, HARMONIA, ENGENHO E GRANDIOSIDADE, O DAVID DE MICHELANGELO.

Depois de um momento inicial de escândalo - natural quando nos deparamos com peças de vanguarda artística, garantem os especialistas -, um crítico de arte, em entrevista ao Fantástico, sedimenta a opinião pública definitiva a respeito da matéria:



"As pessoas tendem a reagir mal diante de inovações artísticas, sobretudo quando o artista é alguém famoso e celebrado em outro ramo de atividade. Veja bem, dizer que a obra do digníssimo presidente honorário supera o David de Michelangelo talvez soe como exagero para críticos mais conservadores, mas o que importa é que toda obra de arte tem o seu valor e a sua importância histórica. Há ainda muito preconceito elitista contra artistas novos, sobretudo aqueles que, vindo do povo, como o presidente Lula, ousam desafiar os cânones da assim chamada [e o crítico faz o gesto de aspas com os dedinhos] alta cultura."


E assim foi que o extraordinário monte de bosta converteu-se em patrimônio histórico e artístico nacional, atestado pelo IPHAN. Hordas de peregrinos vão, diariamente, apreciar e reverenciar esse monumento à cultura brasileira. O único inconveniente é ter de disputar espaço com milhares de moscas varejeiras subitamente aficcionadas por arte moderna...


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